sábado, 5 de julho de 2008

Ser nerd é...

A vida de um nerd é curiosa. Geralmente começa gostando em especial de coisas aparentemente inocentes: o desenho animado do Homem-Aranha e dos X-Men, Chavez e Chapolin, filmes de ação da "Sessão da Tarde" como "O Grande Dragão Branco", "Rocky", "Braddock", "Exterminador do Futuro". Aí você começa a crescer e percebe que seus gostos vão ficando cada vez mais diferentes dos garotos (e garotas, existem garotas nerds!) [nota mental n°1: achar uma garota nerd, fofa e linda para mim].

Você é sacaneado, muitas vezes excluído. E então, a primeira parte da mágica se faz! Uma lei básica do multiverso diz que um nerd pode encontrar um semelhante mesmo entre milhares de humanos caretas e fracotes [Hulk MODE ON]. Se alguém é nerd sempre, eu disse SEMPRE, acaba encontrando outros nerds para formar seu pequeno gueto, como dizem os equínos que nos perseguem por esse mundão sem porteiras.

Você tende a gostar de videogames, certos tipos de filmes, quadrinhos (NÃO CHAME DE GIBI!!!) e livros. Uma característica se destaca em qualquer um desses gostos: você gosta tanto, mas tanto daquilo que fica "viciado". Aprende tudo sobre aquele produto cultural em específico, apreende sua mitologia, descobre coisas sobre seu criador, conhece em detalhes aquela obra... No início aquilo leva a uma obcessão momentânea, que pode passar com o tempo.

Observando seu comportamento excêntrico, seus maldosos coleguinhas de escola, de rua, de playground ou do raio-que-o-parta vão começar a apontar e gritar "Nerd! Nerd! Nerd!". Isso vai gerar desespero, mágoa, dor. Talvez você até tente gostar da "modinha da galera" pra não ficar por fora, mas tudo aquilo vai parecer sacal. Aí vem a parte mais bonita da história... Os anos se passam, você percebe que ser como é não vai fazer as "mulézinha" fugirem de você, aqueles babacas que te zoavam começam a se dar realmente mal na vida e sua personalidade se consolida. Findada a adolescência você consegue falar em alto e bom som: "Eu sou nerd"! É bem verdade que depois dessa frase geralmente há um "sim, e daí?". Influência do orkut? Eu acho que não!

Eu passei por todas essas fases e tenho amigos que passaram pela mesma coisa. Sei, pelos relatos que a grande mãe internet me proporciona ler, que muitos outros também viveram isso. Desde que tomei consciência do meu lado nerd, passei a me orgulhar dele, cultivei-o, reguei meu lado nerd com carinho (UI!), mas uma pergunta nunca me saía da mente: o que é ser nerd?
As pessoas em geral, quando pensam na palavra nerd, vêem um garoto gordo e branquelo vestindo um jaleco encardido à frente de seu computador, onde se esforça para desenvolver um novo firmware, debruça-se sobre equações matemáticas, fórmulas físicas, reações químicas. Errado! Isso é o chamado CDF. Um nerd de verdade pode até se interessar por uma dessas coisas, mas jamais gastaria seu tempo livre com elas, se pode estar jogando aquele RPG supimpa, lendo o último conto não acabado de Tolkien ou matando pessoas de 67 formas diferentes no GTA.

Um dia, conversando com meu amigo Felipe, o grande e poderoso Deus Stan Lee tocou minha mente e a verdade se revelou. O nerd é o jovem pós-moderno! Numa sociedade de massa na qual os produtos culturais são irradiados para milhões de pessoas de uma só vez, quase todas as pessoas consomem a 'cultura pop' sem usar o cérebro. Só se divirta, refletir é para os fracos! Parte dessas pessoas ainda vive sob uma concepção antiquada de mundo que apregoa em nossas mentes que há coisas eruditas e cult, sobre as quais vale a pena gastar neurônios, e coisas que servem única e exclusivamente para nos tirar do tédio por alguns microssegundos. Essa é a cultura pop.

Mas isso é mentira. É possível ter uma conversa prolífica sobre a interação entre o modelo japonês e o modelo americano de produção e comercialização de quadrinhos, como tive com o também nerd Zé. É perfeitamente plausível discutir acerca dos estrategemas militares das cidades da Terra Média, como geralmente faço com meu amigo Felipe. É normal aprender mitologia discutindo Naruto, como faço com meu grande amigo Wallace. E é extremamente produtivo debater geopolítica a partir do Universo Marvel, como canso de fazer nos fóruns do orkut.

O nerd é aquela pessoa que dá uma nova profundidade à cultura pop, percebendo o que muitas vezes está nas entrelinhas e tirando algo produtivo do que também é seu lazer. Todo mundo tem um lado nerd, por menor que ele seja!

Além disso, a nossa cultura é dominada por nerds. As séries de TV mais populares (Lost, Heroes, Buffy...) foram criadas por nerds. Harry Potter, um livro feito para nerds, é um dos títulos mais vendidos de todos os tempos. Os filmes que mais arrecadam em bilheterias tem relação com o mundinho nerd.

Discorda? Então explique-me a seguinte contradição: muita gente vira a cara quando um galalau como eu entra em uma banca de jornal e compra, devidamente empolgado, o seu encadernado em edição de luxo comemorativo dos vinte anos de "Guerras Secretas", o crossover que revolucionou a indústria dos quadrinhos. Essas mesmas pessoas transformaram as adaptações de quadrinhos para o cinema - outrora um gênero composto tão-somente por fracassos - no ramo mais lucrativo dos blockbusters, a ponto destes poderem ser considerados um gênero a parte dos filmes de ação. Inexplicável? Acho que não.

Como eu disse, essas pessoas não querem profundidade e, por não quererem ocupar suas cabecinhas, consideram quadrinhos coisa de criança. Mal sabem elas que as crianças são muito mais criteriosas em seus gostos... Contudo, quando essa história é pasteurizada em um formato que o seu diminuto HD compreende, vemos muita gente dizendo maravilhas a respeito desses filmes.

Por hoje é só, pe-pessoal. Que vocês rumem para o lado nerd da força, com a benção do Grande Patriarca, Chuck Noris, e do Deus, do Único, do Inigualável Stan Lee!

I will be back! Agora, vou massagear meu lado nerd e assistir "Rocky VI", recomendação da minha musa [nota mental n° 2: todo nerd tem sua musa], que não nega seu lado nerd e é fã de Sylvester Stalone!
Excelsior!